Discute-se muito como o conteúdo escolar deve ser cada vez mais multidisciplinar, a fim de preparar nossos jovens para as exigências do mercado de trabalho e do complexo mundo que nos cerca. Mas será que nós que trabalhamos com mídia e divulgação de informações cumprimos o nosso papel de ser também interdisciplinar quando falamos do preço da carne ou do show da Taylor Swift?
De modo geral, entregamos hoje informação com novas ferramentas e formatos mais diversos, porém nos preocupamos bem menos com o tal olhar variado das questões. Pegando o preço da carne como exemplo, o assunto geralmente aparece nas seções de economia dos veículos tradicionais de imprensa ou nos papos de podcast de gente do mundo das finanças, quando o tema envolve, ao mesmo tempo, meio ambiente, comportamento social, relações de trabalho e história dos costumes.
Obviamente que quando se levam em conta as limitações da diagramação de um veículo impresso ou o tempo de uma história no noticiário da televisão nem tudo cabe na narrativa para explicar o porquê de tanto sobe e pouco desce no valor do bife. O problema é que a análise mais qualitativa da notícia tende a ficar com comentaristas, que são setorizados – o especialista em economia, o especialista em clima etc. – e quase sempre monodisciplinares em seu modo de oferecer um algo mais ao público.
Num país com enorme déficit de educação de sua população, toda oportunidade de expansão de conhecimentos e introdução a um pensamento mais amplo deveria contar. E contar na comunicação com pessoas de todas as idades, já que a carência de formação interdisciplinar vem de longa data e tem custado a todos nós seja na frente econômica, na política ou na social.
A recente morte de uma fã no show da cantora Taylor Swift no Rio de Janeiro, em meio a temperaturas tórridas, recebeu a esperada enorme cobertura da mídia. Contudo, pouco se falou sobre o impacto ambiental da indústria de entretenimento globalizada ou o gerado pela mobilidade de milhares de pessoas pelo Brasil, mais todo o resíduo produzido por elas durante e após o show.
A tendência interdisciplinar da educação precisa ser adotada já na comunicação diária dos fatos e dos questionamentos. Não dá para esperar os jovens formados nas escolas com um enfoque mais abrangente dos problemas do mundo entrarem no mercado de trabalho para só então proporcionar no jornalismo uma visão global desses desafios.