![Post o que é notícia Quadro com título: Quando uma morte é notícia e gráfico do número de mortes de pessoas entre 20 e 29 anos no Brasil segundo o Datasus desde 2011, na faixa dos 50 mil, com uma pequena redução em 2018, 2019 e 2020](https://figaconteudo.com.br/wp-content/uploads/2023/11/Post-o-que-e-noticia-420x280_c.jpg)
O jornalismo costuma noticiar mortes em três situações: quando se trata de uma pessoa conhecida; quando a circunstância em que a morte ocorre é representativa de um problema potencialmente coletivo/social (num episódio de violência urbana, numa cirurgia que devia ser muito simples, por uma doença que possa virar um surto) ou ainda quando a morte tem características muito incomuns ou inusitadas.
A questão é que a primeira situação, a categoria “pessoa conhecida”, alargou-se imensamente com as redes sociais. Hoje, quando alguém jovem morre, é bastante possível que seja uma pessoa com 5000 ou mais seguidores em alguma plataforma, o que a catapulta para o rótulo de “influenciadora” e, portanto, noticiável.
Morrem, no Brasil, todos os anos, cerca de 50 mil pessoas na faixa etária de 20 a 29 anos (segundo dados do Datasus,veja gráfico acima). Cerca de 20 mil dessas mortes são relacionadas à violência (agressões, assassinatos e suicídios). Outras 30 mil, mais de 80 por dia, resultam principalmente de doenças, e uma parecela menor, de acidentes. Quantas dessas mortes merecem virar notícia?
Notícia de morte gera cliques. Ainda mais morte de gente jovem. O fator “imagem” colabora ainda mais para que se produzam notas e notas na imprensa sobre mortes razoavelmente anônimas. Se há vídeo disponível do momento da morte, ela se transforma imediatamente em noticiável. Uma simples foto de boa qualidade ângulo da vítima, coisa fácil de encontrar nas redes sociais, é mais um incentivo à notícia. E assim uma tragédia privada se transfere para a esfera pública.
Histórias humanas de vida e morte bem contadas podem valer a publicação, mesmo que nem preencham nenhum dos requisitos acima. A morte merece ser discutida e encarada, desde que haja contexto e propósito. Ao profissional da comunicação cabe a decisão de publicar e também a de não publicar.
No caso de suicídios, existe mais cautela na imprensa. Da orientação de simplesmente não noticiar, adotada antigamente, passou-se a uma abordagem cuidadosa, tratando o problema como questão de saúde pública e evitando detalhes que possam acionar o “efeito contágio”. Seria positivo se esse tipo de preocupação se estendesse também à espetacularização da morte em geral.