Nenhuma tradução é “só” tradução. O processo de tradução não é apenas verter palavras de uma língua para outra ou encontrar a perfeita versão de uma expressão ou gíria; há sempre algum tipo de adaptação. Na localização, esse exercício de adaptação pressupõe mudanças ainda mais profundas para fazer com que o conteúdo soe – e pareça – natural tanto na língua como na cultura de chegada. Mais do que traduzir algo para o português do Brasil, significa transportar o conteúdo para a realidade brasileira, de forma que ele faça total sentido para o público local e não dê aquela sensação de dublagem malfeita.
O processo de localização de conteúdo envolve um esforço de pesquisa e reportagem de novos dados, imagens e exemplos ilustrativos ou figurativos da cultura local. E é preciso bastante sensibilidade e experiência para eliminar soluções de tradução que pareçam artificiais e, pior, verdadeiramente sem noção.
Um conteúdo que soe estrangeiro perde a credibilidade, principalmente em questões de saúde, cuja abordagem varia imensamente de país para país e até de região para região dentro do mesmo país. A localização bem feita gera a sensação de que a fonte do conteúdo conhece o contexto local, o que cria “autoridade” para a informação e maiores chances de retenção do usuário.
Se alguém duvida disso, imagine só ler um texto sobre primeiros socorros contendo a orientação de ligar imediatamente para 911, como se faz nos Estados Unidos, se seu filho estiver com dificuldade de respirar. Não adiantaria apenas trocar o 911 pelo 192 do Samu, sem considerar que no Brasil não dá para confiar na chegada do atendimento a tempo. E que tal a surpresa de se defrontar com a informação, corrente no Hemisfério Norte, de que não se dá banho em um recém-nascido enquanto o umbigo não cai, depois de sete dias ou mais?
O mesmo tipo de ruído cultural se aplica a imagens, tantas vezes ridicularizadas pela falta de brasilidade em sua essência. Queremos nos reconhecer não só na pele e no cabelo dos modelos de propaganda como também nas roupas que vestem e nas ruas por onde andam. Localização de conteúdo requer refazer todo um contexto, e não só a parte mais óbvia dele. Sutilezas fazem a diferença entre um conteúdo bem adaptado e um conteúdo mecanicamente preparado.