“Por que você acha que eu teria uma camisinha? Por medo de engravidar?”, pergunta, entre irônica e ofendida, Carrie Bradshaw, a personagem principal de Sex and the City e And Just Like That, num episódio bem recente da série da HBOMax. Tudo bem que, na história, ela está na menopausa… Mas é uma mulher sexualmente ativa num programa que sempre celebrou o sexo casual. Nas primeiras temporadas, preservativos faziam quase parte do elenco – foi ao derrubar a bolsa cheia de camisinhas que Carrie conheceu seu grande amor, Big. E a “city” da série de enorme sucesso é Nova York, epicentro da devastadora epidemia de Aids dos anos 1980/1990.
Estaria a modernérrima Carrie Bradshaw desatualizada? Parece que sim. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil há uma preocupação com o aumento de diagnósticos de HIV em pessoas mais velhas e em idosos em geral. Três fatores são citados por especialistas: os apps de encontros, o uso de medicamentos para promover a ereção e o menor uso de preservativo, exatamente porque em mulheres pós-menopausa não há risco de engravidar.
Na semana em que o jornalismo brasileiro lembra a coragem da editora Mônica Figueiredo, que em 1993 estampou uma camisinha na histórica capa da revista Capricho, chega a ser chocante ver um ícone como a personagem interpretada por Sarah Jessica Parker transmitindo conceitos equivocados de saúde. Especialmente por se tratar de conteúdo que tenta lançar luz no negligenciado universo das mulheres na menopausa. Sim, na menopausa pode não haver risco de gravidez, mas infecções sexualmente transmissíveis e HIV continuam tão invisíveis e perigosos quanto para mulheres em idade fértil. Ou seja: faz todo o sentido uma mulher na menopausa ter – e usar – preservativo.