Faz parte da rotina de quem trabalha com texto tentar trocar palavras repetidas por sinônimos. O problema é quando, pelo contexto, os sinônimos não são tão sinônimos assim.
Escrevendo recentemente sobre estudantes que largam a universidade, era tentador ficar variando entre “evasão”, “desistência” e “abandono”. Só que o texto falava justamente de uma questão técnica na medição do MEC (Ministério da Educação): a fórmula que calcula a “desistência” (quando um aluno não volta a se matricular no curso em que estava inscrito no ano anterior) não é sinônimo de evasão ou abandono definitivo, porque o aluno pode ter simplesmente se transferido de curso. Ao mencionar os números do MEC, era necessário usar o termo técnico, “desistência”.
Para evitar imprecisão, o caminho é compreender – e perguntar às fontes — se há conceitos maiores envolvidos na palavra. Em um artigo para o público geral não faz diferença alternar “urgência” e “emergência” ao orientar buscar atendimento médico, mas, em um manual de rotinas hospitalares, é muito provável que o significado de “urgência” seja menos urgente que o de “emergência”, pois esse último termo, em ambientes médicos, costuma designar risco iminente de morte.
“Mar” e “oceano” são muitas vezes sinônimos (“sonhava com o mar, planejava passar horas fitando o oceano”), mas deixam de ser num artigo de divulgação científica sobre a distribuição de correntes marítimas. “Roubaram meu celular” funciona informalmente, porém em uma reportagem sobre policiamento é necessário especificar entre “furto” (subtração sem ameaça) e “roubo” (com ameaça).
Implicar com a exatidão dos conceitos é muitas vezes preciosismo. A atenção aos falsos sinônimos pode, no entanto, evitar erros e sustos, ainda mais na área da saúde. Quando se menciona um “tumor”, nem sempre se trata de câncer. E “câncer” nem sempre vem em forma de tumor. As duas palavras podem ser sinônimas, mas só em algumas situações.
Com o par “climatério” e “menopausa”, a tradição pesa mais que a precisão. Tecnicamente, “climatério” é mais adequado para tratar da transformação hormonal pela qual as mulheres passam ao fim da idade reprodutiva. “Menopausa”, entretanto, é o termo tradicional, consagrado e reconhecido para o fenômeno, e não deve ser deixado de lado. Apenas em contextos mais específicos é preciso reforçar que climatério é o nome do processo todo, e menopausa é o período que se inicia após a última – última mesmo — menstruação.