A regulamentação das apostas esportivas está sendo preparada no Congresso, no Planalto e na Fazenda, mas há pouca ou nenhuma preocupação com o combate ao vício em apostas, e com a posição de vulnerabilidade econômica e mental de usuários de todas as idades, incluindo um número altíssimo de jovens.
A possibilidade de apostar a qualquer momento pelo celular, até durante o próprio evento esportivo, é um apelo quase irresistível, alimentado intensamente pela propaganda, com apostas iniciais gratuitas e forte incentivo a continuar jogando depois dos primeiros ganhos..
A questão é que, da mesma forma como a cobertura das “odds” e análises de apostas está se integrando ao jornalismo esportivo, seria essencial que tanto mídias tradicionais como sociais entrassem no assunto sob o ângulo da saúde mental, com espírito mais informativo e crítico. A sociedade precisa da comunicação de que já há pesquisa científica sobre o potencial viciante das apostas, que existem sinais de alerta de que alguém está desenvolvendo o transtorno do jogo e que é possível contar com mecanismos de proteção para apostar em esportes com um pouco mais de “segurança” mental e financeira (como estabelecer limites para apostas e se autobloquear nas plataformas).
Nos sites e aplicativos de apostas que atuam no Brasil essas informações estão escondidas. Há pouco material de qualidade em português – as plataformas lincam para entidades estrangeiras – e as iniciativas brasileiras relativas ao “jogo responsável” se preocupam muito mais com o combate à manipulação de resultados do que com a questão de saúde mental.
A legalização das apostas esportivas online é recente tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos (2018). Países como Austrália e Reino Unido, com mais tradição na área, estão criando instrumentos como a destinação de parte da renda para centros que estudam, previnem e tratam o vício em jogo, a limitação da publicidade, a proibição de apostas em tempo real de eventos ao vivo e mecanismos para que um usuário possa se autobloquear definitivamente, com um só pedido, de todas as plataformas.
Se as apostas vieram para ficar, como parece ser o caso, o Brasil e os comunicadores brasileiros têm obrigação de se preparar para mitigar os danos da inevitável epidemia em jogo patológico/ludopatia provocada por elas.
Plataformas brasileiras com conteúdo sobre jogo problemático:
Pro-Amiti (do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) – https://www.proamiti.com.br/
Jogadores Anônimos: https://jogadoresanonimos.com.br/
Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (financiado pelas empresas de apostas, ainda está bem incipiente). https://ibjr.org/