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Dá para explicar para o público geral os benefícios e riscos de uma nova vacina, as causas e efeitos das mudanças climáticas ou os prós e contras de uma cesariana com a relatividade que esses assuntos merecem? Há espaço para sutilezas na divulgação de informações científicas e de saúde em mídias sociais? Existe leitor interessado em respostas não definitivas?
Cultivar a verdade dos fatos pode parecer impossível em meio à gritaria de tópicos e imagens nos aplicativos queridinhos do momento, porém a construção da confiança através de um trabalho de formiguinha no dia a dia tende a gerar frutos e fidelização de usuários a longo prazo. Um conteúdo que se dispõe a compartilhar a premissa de que existe gente qualificada que pensa diferente, que há especialistas de várias correntes ou que a comunidade científica ainda busca consenso sobre uma infinidade de questões mostra que está ao lado do público na busca pelos melhores dados para construir um ponto de vista ou fazer escolhas. E aqui estamos falando, claro, de dados baseados em evidências científicas, não de pseudociência ou negacionismos criados só para ludibriar gente desesperada por alternativas em épocas complicadas da vida.
Que o diga um pai ou mãe com recém-nascido em casa e que se defronta com a realidade de que não há fórmula mágica para fazê-lo dormir 10 horas diretas toda noite. É isso: não há curso, método ou médico no mundo que possa garantir sono ininterrupto de uma criança com organismo ainda imaturo e necessidade de alimentação e aconchego constantes. Vender para uma família a ideia de que “basta treinar o nenê” ou “é só reforçar a última mamada” é enganoso e injusto. Conteúdo voltado à criação de filhos é especialmente delicado, por misturar ciência e valores (além de política, como tudo o mais).
Mas é justamente nesse tipo de situação espinhosa que informações conflituosas precisam ser destacadas com a mesma importância, incluindo até o famoso “ainda não se sabe ao certo por que…”. Falar de forma sincera para o leitor que a ciência sobre um problema engatinha, muda ou é incerta expressa o que o próprio pensamento científico exige de um pesquisador, que é o questionamento constante. Com medo de abrir espaço para a anticiência, o jornalismo muitas vezes recorre a um excesso artificial de certezas. E, em outros (muitos) casos, se faz isso por puro interesse econômico. Vende conteúdo? Vende. É ético? Aí cada um de nós que trabalha com conteúdo sobre saúde e ciência tem que decidir o preço a pagar pelo rumo que se trilha.