![Quadro cinza com o texto: Saúde e segurança: os riscos do jornalismo declaratório, e o endereço figaconteudo.com.br abaixo](https://figaconteudo.com.br/wp-content/uploads/2023/08/Posts-LinkedIn-4-420x280_c.png)
Se nos últimos anos o jornalismo aprendeu a duras penas que não pode simplesmente publicar sem contexto ou checagem mentiras e acusações falsas feitas por uma autoridade, o mesmo não se pode dizer da reprodução de falas de celebridades ou pessoas comuns vivendo fatos noticiosos. Todo dia se leem na imprensa afirmações muitas vezes inocentes, mas cheias de conceitos errados e perigosos, relativos a saúde e segurança, feitas por personagens de eventos relevantes e publicadas sem nenhum tipo de esclarecimento.
Quando, por exemplo, uma entrevista traz o emocionado relato de alguém que passou por um incêndio, contando que os moradores do local correram para abrir todas as portas e janelas para conseguir respirar em meio à fumaça, acaba sendo transmitida a ideia errônea de que é isso que se deve fazer em caso de incêndio.
É papel básico do jornalismo , se quiser mesmo publicar a frase, conferir se aquele é um procedimento aconselhável (não é, porque abrir portas e janelas permite a entrada de oxigênio, que alimenta a disseminação rápida e imprevisível do fogo). E de acrescentar orientações corretas do Corpo de Bombeiros, como a informação de que é melhor tentar rastejar para a saída mais próxima.
Declarações de famosos sobre sua própria saúde são outro exemplo delicado desse tipo de omissão jornalística. Uma autodeclaração de “cura” de uma doença grave, publicada sem explicações pela mídia, ganha uma aura desproporcional de legitimidade, que pode afetar o tratamento de outras pessoas e espalhar falsas esperanças.
Assim como qualquer reportagem sobre denúncias de erros médicos deve incluir na apuração não só acusação e “outro lado”, mas também uma visão de fonte neutra sobre o caso, para contextualizá-lo melhor para o público leigo.
De conteúdo sobre maquiagem, passando por receitas, música, saúde ou comentário econômico, não há assunto ou declaração que dispense verificação e pesquisa antes de publicar. Senão deixa de ser jornalismo.