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Ao que parece, toda a comoção em torno do transplante de coração do apresentador Faustão levou a uma alta de notificações de doação de órgãos em vários Estados do Brasil. Os números oficiais ainda não fecharam, mas não seria de surpreender que se confirme a elevação por alguns meses, para, logo à frente, as doações estagnarem ou voltarem a cair. Isso quer dizer que o brasileiro não tem coração?
Obviamente que não é o caso. O excesso de pessoas nas filas à espera de um transplante de órgãos e a escassez de doadores é um problema de muitos ângulos político-sociais, mas com certeza passa em boa parte pela má comunicação à população sobre o processo de retirada de órgãos. As campanhas oficiais focam quase que exclusivamente na mensagem de que uma única pessoa pode doar uma série de órgãos e salvar várias vidas diferentes, o que não é nenhuma mentira, porém deixam de explicar o que provavelmente incomoda lá no íntimo de muitos de nós.
São questionamentos como: gente pobre pode acabar ludibriada para doar órgãos para gente rica e “matar de vez” um ente querido que poderia contar com mais assistência, se não fosse uma questão econômica? Um corpo de onde são retirados órgãos fica mutilado para depois ser exibido em caixão aberto no velório? Alguém pode tirar um órgão de uma pessoa com morte cerebral, mas com o coração ainda batendo?
Não importa se quem entende do assunto do ponto de vista científico ou legal considera esses medos infudados, irracionais, ignorantes ou irresponsáveis, porque, enquanto se discute uma estratégia melhor para tocar emocionalmente os brasileiros sobre a importância da doação de órgãos, pessoas estão adoecendo ou morrendo na fila esperando um órgão compatível chegar. É urgente comunicar de maneira mais direta e detalhada como funciona na prática uma doação de órgãos em vida ou em morte, para que a discussão entre nos tópicos conversados abertamente das famílias. Por esse caminho da comunicação que não menospreza o interlocutor, será também mais fácil abrir, no futuro próximo, o diálogo com a sociedade sobre as necessárias mudanças na legislação da doação de órgãos do Brasil.