![Escolhas gênero](https://figaconteudo.com.br/wp-content/uploads/2023/06/Escolhas-genero-420x280_c.jpg)
Escolhas editoriais sobre pronomes, substantivos ou adjetivos são realidade diária de todos que escrevem para um público amplo e buscam acertar o tom. Para quem não faz jornalismo de nicho é uma tarefa cada vez mais delicada informar sem ferir sensibilidades ou abrir subdebates que fujam do tema em pauta. Ainda mais para quem lida com assuntos de saúde ou estilo de vida e tem por objetivo divulgar informações baseadas em ciência da forma mais simples e direta possível para o público geral. Então como não se envolver em guerras culturais quando se fala, por exemplo, de algo tão básico como o desenvolvimento de um bebê dentro da barriga da mãe?
Bom, a frase acima já é por si carregada de escolhas: por que chamar um bebê no masculino e não uma bebê no feminino, ou por que usar a palavra mãe, em vez de pessoa? São reinvindicações justas da atualidade, porém podem levar a um caminho de alienação de certos grupos que rejeitam a percepção de conteúdo “politicamente correto” ou progressista além da conta. E qual o problema disso? Quem não está satisfeito que leia outra coisa, não? Não. Queremos isolar mais ainda dentro de bolhas das redes sociais os usuários já tão carentes de educação e informação em saúde?
Fingir que não existe complexidade em escolhas editorais acaba ampliando desigualdades de acesso à informação e reduzindo a diversidade de público, que é o que, afinal de contas, tanto buscamos no jornalismo científico. A consciência da necessidade de inclusão é permanente, e ela se mescla à disposição para encaixar trocas de vocabulário mesmo quando a linguagem abertamente inclusiva é contraindicada, pelo risco de cortar a comunicação.
Assim, intercalam-se sempre que possível palavras com menos carga, reforçando a flexibilidade de gênero e papéis sociais: “criança” no lugar de “bebê”, “profissional” no lugar de “médico”, “cuidador” no lugar de “mãe”, “gestante” no lugar de “grávida”, “equipe da enfermagem” no lugar de “enfermeiras”, e o plural, que em alguns casos ameniza a questão do gênero. Certamente são substituições aquém das reivindicações de neutralidade total de gênero na língua portuguesa, embora apontem alternativas menos suscetíveis a um rápido abandono do conteúdo.
Quando o objetivo é atingir o máximo número de pessoas, as decisões precisam ser tomadas levando isso em conta. O que de maneira nenhuma invalida situações em que essa decisão editorial é essencialmente política, de posicionamento, porque aí o objetivo é outro.
As mudanças sociais são inseparáveis da evolução de qualquer língua viva, e o tempo, junto com o ativismo de quem está à frente nos costumes, acaba por varrer a resistência até dos mais refratários aos novos jeitos de falar ou de escrever. Enquanto isso, seguimos no permanente esforço de sutileza nas escolhas editoriais, para tentar deixar o mínimo de usuários ofendidos para trás e sem exposição aos fatos essenciais da ciência, que é uma das maiores carências de formação da nossa sociedade.